terça-feira, 12 de agosto de 2008

Redacção feita por uma aluna de letras

"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se
encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos
pelas preposições da vida.
O artigo, era bem definido, feminino, singular. Era ainda novinha, mas
com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingénua, ilábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que
era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por
leituras e filmes ortográficos.

O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele
lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou
a insinuar-se, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse
pequeno índice.

De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns
sinónimos.

Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador
recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára
exactamente no andar do substantivo.

Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma
fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para
ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram a conversar, sentados num
vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi
usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um
imperativo.

Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o
seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que
nem um período simples, passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele
não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu
apóstrofo.

É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava
totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois
géneros.

Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa.

Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando
cada vez mais.

Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do
objecto, tomava a iniciativa.

Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela
era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o
pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisto a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do
edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e
adjec tivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de
preposições, locuções e exclamativas. Mas, ao ver aquele corpo jovem,
numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo
diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar
particípio na história.

Os dois olharam-se e viram que isso era preferível, a uma metáfora por
todo o edifício.

Que loucura, meu Deus. Aquilo não era nem comparativo. Era um
superlativo absoluto.

Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele
predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada
vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e
propondo claramente uma mesóclise-a-trois.

Só que, as condições eram estas. Enquanto abusava de um ditongo nasal,
penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento
verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido
depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um
ponto final na história.

Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e
voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o
artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva."


Esta composição para mim está fantástica....sem dúvida :D

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